terça-feira, 13 de julho de 2010

Ele fala palavras difíceis e encena a vida quando se olha no espelho. Ela dedilha o cabelo quando pensa em algo sério, procura fios imperfeitos e os elimina instintivamente. Somos todos meio loucos. Ontem mesmo eu te amava, hoje já não me lembro mais. Eu digo “não me lembro mais”, mas tudo o que eu penso é em você nesta terça-feira vadia. Tudo é meio químico ainda, o amor, as pessoas. Os dias tem cores fortes, depois vão empastelando com o tempo. Terça-feira é azul bem clarinho. Lembro-me de te ver levantando as mãos em reverência aos deuses da música. Você parecia tão feliz naquela noite, ou eram os meus óculos escuros? A saudade me trai. Os goles, as raias, os doces, os desenhos que anunciam a nossa sorte em pequenos comprimidos cor-de-rosa. Eu penso em você, sabe? Eu penso em todos nós. Nossos filhos caretas culpando-nos por tanta liberdade. E os meus sonhos pequenininhos numa cidade assustadoramente vasta. Ele sente raiva de tudo, medo, falta das coisas e a vontade de matar pessoas e fazer filhos com elas. Ela gosta de inventar histórias, calada, imersa no silêncio de seus olhos distantes. Mas o que desejamos do mundo ninguém sabe assim de nos ver passar. O mundo rodando, a vida, a cabeça girando em formações geométricas, flores impossíveis, estrelas no céu. Um caleidoscópio de dias e sonhos e almas. Todas as pessoas que eu jamais troquei um olhar me reparam aqui sozinho. Todos os velhos encontros buscavam um encontro só. Os dias foram todos ensaio para agora. Porque apenas terça-feira existe e ela é azul da cor dos seus olhos

Nenhum comentário:

Postar um comentário